domingo, novembro 10, 2019

Fui até a bera do abismo e bambeei lá por anos, olhando para o fundo como se fosse atraente e me chamasse para pular, sem ao menos saber se o fundo seria seguro. Vivia atingida por ventos que me balançavam de frente pra trás, como uma grande gangorra, uma dança irregular que eu nunca soube os passos ao certo. 

Dei dois passos recuando, sem saber se aquilo era salvação ou suicídio, fui cambaleando como se por um momento estivesse perdendo os movimentos das pernas, mas na verdade meus pés pesavam 1 tonelada e cada passo exigia de mim toda força e energia para sair da beira do abismo. 
Quando levantei meu rosto e me vi longe o suficiente, senti como se cada parte do meu corpo doesse com o esforço, como se tivesse sido obrigada a correr 20km, ida e volta, sem nenhuma preparação, sem nenhuma experiência, e o pior, sem vontade. 

Você me prometeu amor, me prometeu segurança, verdade e felicidade. Eu recebi migalhas parceladas de cada um desses, esperava como se fosse a minha única maneira de viver plenamente, como se fosse a única alternativa. Fechei os olhos para a realidade, me deitei numa cama dura e fria na qual você me pós para dormir.  Dancei uma música que só você conhecia e me movia de acordo com os seus pés, onde eles me levavam, quando me giravam e quando me jogavam para longe, apenas para me puxar de volta, ainda mais perdida do que no início, enquanto você fazia acreditar que eu não aprendia por não me dedicar o bastante, não querer o suficiente, não amar o quanto era necessário. 

Você me prometeu o mundo, a lua, ser o meu sol, me esquentar. Assim te transformei no centro de tudo, como se minha vida orbitasse em torno do que você era e queria que eu fosse, ditada pelo seu humor, pelo seu querer, pelo seu amor, e, consequentemente, pelas suas mentiras. Por ser mais você do que eu, me odiei tantas vezes, me pus a culpa de coisas que eu deveria saber que não dependiam de mim, sobre as quais eu não poderia ter controle. Eu fui tanto e tentei sempre ser mais, me perdi e andei sem rumo por anos, sentindo o vento mas sem conseguir realmente respirar, uma falta de ar que me acompanhou até o último momento, até depois que caminhei para longe. 

Ao fim, finalmente entendi, foi no meu adeus que realmente me encontrei e reconheci. Precisei desisti dos passos de dança que eu nunca conseguiria acompanhar, me afastar da beirada, não pular, não me entregar, não cegar. Eu precise me sentir completamente vazia, sozinha e sem propósito após te deixar, para entender como é ser realmente eu, sem suas amarras, sem suas mentiras, sem cambalear. Eu precisei te deixar e perder para aprender a me amar.  

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